terça-feira, 9 de junho de 2009

A vingança dos cursos técnicos

A lei proibiu durante alguns anos, mas o Brasil abriu os olhos para investir na formação técnica dos alunos do ensino médio09/06/2009 03:01 Tatiana Duarte
A formação técnica e o rápido ingresso no mercado do trabalho têm motivado uma imensa parcela dos jovens a procurar os cursos técnicos de nível médio no Brasil, que depois de serem até mesmo proibidos por lei voltaram a ser realidade no país. Os dados favorecem a escolha pelos cursos técnicos: a formação especializada no ensino médio é a mais requisitada pelo mercado de trabalho da atualidade. De acordo com pesquisa do Ministério da Educação (MEC), 72% dos 2.657 egressos formados entre 2003 e 2007 nos cursos técnicos da rede federal estão no mercado.
Além de todos os que já estão contratados, há vagas para mais 6 milhões de trabalhadores com curso técnico. Pelo menos essa é a conta do reitor do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Alípio Santos Leal. “Até 1999 existia uma demanda reprimida na oferta de cursos técnicos, que permaneceu até 2008, quando foram criados os Institutos Federais”, diz. Em 2007, o governo federal lançou o programa Brasil Profissionalizado, que culminou no lançamento da rede federal de escolas técnicas, transformadas em institutos. Até 2011 o investimento deve atingir R$ 900 milhões.

Na opinião do presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social (Ibdes), Heitor Krause, o ensino técnico foi sucateado em todo o país nas décadas de 80 e 90. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) passou a proibir a realização do curso técnico integrado ao ensino médio. A legislação só foi modificada em 2004, possibilitando novamente essa integração. Entre as principais diferenças em relação ao ensino médio normal está o tempo de estudo. São necessários quatro anos para concluir um curso integrado com o ensino profissionalizante. “Com isso tivemos inclusive muitas escolas técnicas fechadas, mas o governo constatou e reparou o erro. Os contratantes identificaram que os técnicos e tecnólogos terminam o curso aptos a produzir imediatamente – coisa que não ocorre no âmbito acadêmico, com os formados nos cursos de graduação”, afirma Krause.
Engana-se quem pensa que vai estudar menos num curso técnico de nível médio. A estudante do 2º ano de química industrial, do Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba, Adriana dos Santos Moraes, 16 anos, ressalta que é preciso muita dedicação. “Não dá para levar de qualquer jeito. Estudo bastante. Talvez não estivesse tão entusiasmada no ensino médio normal”, diz.
A escolha precoce não é empecilho, conforme lembra Bruna Godói, 16 anos, que, além de optar pelo ensino médio integrado ao técnico quando concluiu a 8ª série do ensino fundamental, há cerca de dois anos, teve de escolher uma área específica. “Pensava em algo diferente, que não ficasse somente no geral. Quero fazer engenharia química depois de concluir aqui”, diz.
Ameaça e preconceito
Tanto Bruna quanto Adriana estudam hoje num colégio que ficou ameaçado a fechar na época em que a lei deixou de permitir o ensino médio integrado ao profissionalizante. O Centro Estadual de Educação Profissionalizante de Curitiba (antigo Instituto Politécnico Estadual), que hoje atende cerca de 3,5 mil alunos, chegou a funcionar com apenas 200. Turmas de técnico integrado ao ensino médio só voltaram a ser abertas em 2004. “A escola não tinha recursos para se manter e chegamos a cobrar mensalidade para os cursos técnicos. Foram tempos muitos difíceis”, diz o diretor Edson Luiz Martins.
Desde 2004, a rede estadual de ensino passou a ofertar cursos técnicos integrados ao ensino médio em colégios públicos estaduais. Atualmente são 40 opções que atendem cerca de 40 mil estudantes em 285 escolas de 163 cidades. A chefe do Departamento de Educação e Trabalho (DET), Sonia Regina de Oliveira Garcia, ressalta que a intenção é dobrar o número de cursos em 2011.

gazeta do povo

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