sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Professores criativos, alunos interessados

Com projetos simples, docentes estimulam estudantes, que aprendem melhor e passam a gostar mais da escola28/07/2009 03:01 Vinicius Boreki

Com criatividade, professores de escolas estaduais e municipais driblam a falta de recursos e encerram a monotonia em sala de aula, motivando seus alunos com iniciativas que fogem do padrão. Vale tudo para incentivar estudantes, desde instituir horário exclusivo à leitura – inclusive para funcionários –, organizar sarau para apresen­tar o mundo artístico ou desenvolver projetos interdisciplinares que tragam o conteúdo das disciplinas para a realidade. As ino­­vações repercutem positiva­mente no aprendizado e, como consequência, no in­­­­teresse pela escola e pela educação.
Há 14 anos, o professor de Bio­logia Nicolau Shigunov desenvolve, na Escola Estadual La Salle, no Pinheirinho, o projeto Túnel do Co­nhecimento. Uma vez por ano, o professor seleciona um tema, e os estudantes organizam uma apresentação para colegas e comunidade. “Este ano, nosso foco foi o meio ambiente”, conta. Os estudantes criaram a peça Corruptolândia – Sociedade do Lixo, encenando as consequências de uma sociedade que não conserva os recursos naturais. “Além de contextualizar o conteúdo, o teatro é uma maneira de trabalhar a interdisciplinariedade”, acrescenta.
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Comunidade se envolve em ações
Projetos como o Túnel do Conhe­cimento ou Sarau Cu­l­tural movimentam a comunidade, muitas ve­­zes alheia à escola. No caso da Es­­cola Mu­­nicipal Nimpha Maria da Rocha Peplow, o espaço permaneceu aberto aos moradores du­­rante toda a semana de 1 a 6 de ju­­nho, de manhã à noite. “Como trouxemos artistas, houve interação com a comunidade, que participou das oficinas e visitou a escola”, diz Claudia Alessi, professora de Artes. “Há pessoas que moram pró­­ximo, mas nunca tinham en­­trado aqui. E a participação dos pais também incentiva as crianças”.
A apresentação da Corrup­tolândia – Sociedade do Lixo movimentou outras pessoas, além de estudantes e pais. A comunidade se mobiliza para assistir ao resultado do esforço e dedicação dos estudantes – que passam um fim de semana na montagem da estrutura. Professora da UFPR e doutora em Educação, Araci Asinelli da Luz afirma que a interação aguça o sentido de importância da escola. “Esses jovens, em geral de periferia, percebem que a escola é vida”, diz. O interesse pelo projeto de Nicolau Shi­gunov é tão grande que ex-estudantes pedem para participar da encenação. “Todo ano o pessoal fica na expectativa pelo projeto. Curioso para saber o tema e aguardando o agendamento da data”, afirma o professor de Biologia da Escola Estadual La Salle. (VB)
Participação
Funcionários aderem à leitura
Quarta-feira é o dia esperado na Escola Municipal Vila Zanon, no Tatuquara. Estudantes, professores e funcionários têm 20 minutos exclusivos para se dedicar à leitura. “Não precisa necessariamente ser livro, pode ser um texto, uma imagem, um jornal ou até uma gravura”, conta Rosana Faglioni Carrasco de Almeida, diretora da instituição. Se um pai procurar a escola nesse período, terá de que esperar. Ou aproveitar para colocar a leitura em dia. “A ideia é fazer com que todos se envolvam. Qualquer pessoa que chega percebe que é um momento importante”, afirma Rosana. E o temor de que a obrigatoriedade poderia afugentar os alunos da literatura se dissipou no momento em que os estudantes começaram a aproveitar o horário do recreio para ler. “Tornou-se algo maior”, diz Rosana. Com isso, “eles estão mais críticos. Conseguem comentar, argumentar, melhorando muito no raciocínio e produção de texto”, conta.
De acordo com Shigunov, o sistema de ensino está atrasado. Por isso, o uso de recursos audiovisuais é fundamental para atrair o interesse do aluno e facilitar o aprendizado. “Com os múltiplos recursos que existem, o aluno se desinteressa pela aula comum. No Túnel do Conheci­­mento, eles se envolvem, par­ticipam e aprendem”, diz. Dou­tora em Educação, a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli da Luz explica que projetos como esse são es­­senciais para aproximar os estudantes da realidade. “Os currículos não têm significado para os alunos, afastando-os da escola. E isso desmotiva. Uma proposta dessa inclui o estudante como autor. Ele se sente bem”, diz.
Araci defende trabalhos diferenciados para transformar a concepção da escola para o estudante. “Isso coloca a instituição como am­­­­biente rico para relações hu­­ma­­nas”, diz. O bom relacionamento com o espaço favorece o cuidado com o local de estudo, seguindo a ve­­lha máxima de que “quem ama cuida”.
Semana cultural
A Escola Municipal Nimpha Maria da Rocha Peplow, no Vista Alegre, organizou, na primeira semana do mês, um sarau cultural. Nos cinco dias, profissionais de diversos ramos das artes – artistas plásticos, poetas, pintores, escritores e ilustradores – es­­tiveram na escola expondo trabalhos, conversando com alunos e a comunidade, além de mi­­nis­­trar oficinas. “Desde o ano pas­­­­sado, promovemos iniciativas que envolvam a literatura e as artes”, conta a professora de Li­­teratura, Ensino Religioso e responsável pela biblioteca da instituição, Lucia Felix Pedri. O pontapé inicial para o projeto deste ano ocorreu em função do centenário de nascimento de Sinibaldo Trombini, patrono da biblioteca da escola.
A professora de Artes Claudia Alessi afirma que as crianças se tornaram mais sensíveis desde que passaram a conviver com a cultura. “Eles têm olhar mais crítico e um processo criador mais aguçado. Elas relacionam as disciplinas com a realidade e melhoram o desempenho escolar, inclusive em outras disciplinas”, diz.
Para os estudantes, essas iniciativas se transformam em incentivo. “Nunca me senti desmotivada com a escola, mas ela ficou muito diferente na semana. Bem mais legal”, conta Nicolle, 9 anos. As crianças se encantaram com a oficina sobre produção de histórias em quadrinhos. “A gente aprendeu sobre onomatopeias e toda a criação”, completa. Mar­cos, 9 anos, também aprovou o projeto: “Conhecemos novos livros, novos quadros. Um monte de coisas que a gente não vê todos os dias”, diz.
Além do sarau, os professores inventaram a “mala da leitura”. A ideia simples – consiste em uma mochila com um livro, que deve passar por todos os alunos de uma turma para que todos leiam – é um dos principais incentivos à leitura. Com isso, os alunos passaram a mostrar interesse pela literatura, apesar da pouca idade. “Nos livros, a gente se sente como o personagem. Dá para notar que ler não é como filme, é bem melhor”, opina Isabelle, 10 anos.

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